Chinelo nuvem faz mal para os pés?
Chinelo nuvem, mule, tênis sem calcanhar... Esses são alguns calçados da moda podem aumentar risco de lesões nos pés
Você costuma seguir as tendências da moda? Caso sua resposta seja sim, atenção! Nos últimos anos, foram lançados calçados que não são presos aos pés, ou seja, são aqueles que deixam o calcanhar de fora. Embora sejam mais fáceis de calçar, podem causar diversos problemas nos seus pés, coluna e quadris.
Um dos itens fashionistas do momento é o mule. Esse calçado dos anos 90 voltou a ser uma tendência nos últimos anos. Além disso, ganhou versões em outros tipos de sapatos, como mocassins, tênis e tamancos. O próprio mule ganhou modelos com a frente aberta, com saltos altos, finos, grossos e médios, lembrando, praticamente, um chinelo para ocasiões sociais.
E por falar em chinelo, em 2022 foi a vez do chinelo “nuvem”, que promete ser um calçado confortável e ortopédico. Será mesmo?
Segundo a fisioterapeuta Walkíria Brunetti, especialista em RPG e Pilates, é cada vez maior o número de mulheres que chegam à clínica com queixas de dores nos pés, quadris e coluna depois de começarem a usar esses calçados da moda.
“Nem sempre o que é bonito faz bem para a saúde. E essa lógica vale, também, para a saúde musculoesquelética. Há diversos problemas que podem afetar os pés quando usamos calçados inadequados, por tempo prolongado e em terrenos não apropriados”, diz.
Prenda-me se for capaz
“Os chinelos, tamancos, mules e todos os outros calçados que não ficam presos ao pé, exigem um esforço maior para permanecerem no lugar e não dão estabilidade para o tornozelo. Isso também vale para o chinelo nuvem”, comenta Walkíria.
Quando esse movimento de prender o calçado no pé é feito de forma repetitiva, pode causar uma tendinite e dores nos dedos, arco plantar, calcanhar e nas pernas. “Além disso, dependendo do quanto a pessoa caminhou com esse calçado e em qual tipo de terreno ela pisou, podem surgir dores na coluna lombar e nos quadris. Sem contar o aumento do risco de tropeços e entorses”.
“Naturalmente, se o calçado é usado em ocasiões especiais, por poucas horas, o risco é menor. Mas, se a pessoa adotou esses sapatos no seu dia a dia, para ir trabalhar, estudar e passear, a chance de desenvolver uma fascite plantar, por exemplo, aumenta bastante”, ressalta a especialista.
Meu pé, meu querido pé
A fascite plantar pode afetar 1 em cada 10 pessoas após os 40 anos. Trata-se de uma inflamação no tecido que se estende do osso do calcanhar por toda a planta do pé, chamada de fáscia plantar.
Ao darmos o impulso para caminhar, a planta do pé é comprimida e uma força de tração é gerada. A cada passo, a fáscia é submetida a movimentos repetitivos de tração. Além de calçados inadequados, há outros fatores de risco, como obesidade, permanecer em pé por muitas horas, esportes como corrida, ter os pés planos (sem o arco plantar), ter os pés cavos (com o arco alto demais), entre outros.
Vale lembrar que os homens não estão isentos de problemas causados pelos sapatos. Para eles, o risco se torna maior com o uso de sapatênis e chinelos.
Existe calçado ideal?
O calçado ideal vai depender da ocasião, do tipo de atividade e do terreno. Contudo, uma das principais recomendações é que a pessoa deixe os chinelos para ambientes como piscina, praia e, eventualmente, em casa.
“Usar chinelos o tempo todo, além de aumentar o risco de lesões musculoesqueléticas, eleva a chance da pessoa se machucar em pedras, vidros, bater os pés em objetos cortantes etc.”, reforça Walkíria.
“Uma opção confortável para usar dentro de casa são alguns chinelos ortopédicos, que possuem um sistema de amortecimento e um solado mais alto. Para a prática de esportes, é sempre importante usar um tênis adequado ao tipo de atividade que será feita. Caso seja uma atividade de maior impacto, é preciso um sistema de amortecimento mais robusto”, comenta a fisioterapeuta.
No dia a dia do trabalho, mercado e caminhadas mais longas, o ideal é usar sapatos com saltos de 3 a 4 cm ou Anabela. Uma opção interessante são os calçados flatform. Eles têm um solado reto, com uma altura boa que dá maior estabilidade na caminhada, além de prevenir dores nos pés e nas costas.
Walkíria recomenda que os mules, tamancos e demais calçados que não são fixos aos pés, sejam usados em ocasiões especiais para prevenir lesões nos pés, coluna e quadris. “A recomendação para se manter na moda, sem aumentar o risco de problemas, é usar por menos tempo, para ocasiões específicas”.
Problema instalado, trabalho dobrado
Todavia, se você já desenvolveu uma fascite plantar ou uma tendinite, será preciso investir em sessões de fisioterapia para devolver a mobilidade e reduzir as dores. O trabalho mais importante é o alongamento e o fortalecimento dos músculos da panturrilha e da cadeia posterior para estabilizar o tornozelo.
“Uma dica para quem dores nos pés ou usa sapatos nem sempre adequados, é realizar compressas de gelo e exercícios para relaxamento da fáscia. Para esse exercício, a pessoa deve apoiar as mãos numa parede, colocar um objeto que se encaixe na planta dos pés, com uma bolinha de tênis ou um cilindro. A partir disso, deve deslizar os pés para frente e para trás. Alongamentos também são bem-vindos”, finaliza Walkíria.
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